ÚLTIMO DISCURSO DE SALVADOR ALLENDE NA RÁDIO MAGALLANES EM 11 DE SETEMBRO DE 1973

ÚLTIMO DISCURSO DE SALVADOR ALLENDE NA RÁDIO MAGALLANES EM 11 DE SETEMBRO DE 1973 A Voz Trabalhadora, em parceria com outros canais, preparou uma série de videos e programas na semana em que completa 50 anos o golpe de estado no Chile. Em 1973, os militares chilenos, liderados por Pinochet, depuseram o socialista Salvador Allende, presidente eleito em 1970, para dar início a ditadura que perduraria até 1990. O presidente eleito em 1970, Salvador Allende, proferiu estas palavras pela Rádio Magallanes, a única que atendeu à solicitação de cadeia nacional, às 9 horas e 20 minutos do dia 11 de setembro de 1973, uma terça feira, dirigindo-se ao povo trabalhador, campesino, às mães e mulheres, enquanto o palácio de La Moneda sofria um bombardeio, instantes antes de sua morte. No início, ele menciona a traição do exército e os nomes de alguns militares do alto escalão que haviam lhe declarado apoio e, em seguida, participaram do golpe. Confira a íntegra do histórico discurso de Salvador Allende “Esta será seguramente a última oportunidade em que poderei dirigir-me a vocês. A Força Aérea bombardeou as torres da Radio Portales e da Radio Corporación. Minhas palavras não têm amargura, mas sim decepção. Sejam elas um castigo moral para os que traíram o juramento que fizeram. Soldados do Chile, o almirante Merino que se auto designou e o senhor Mendoza, general rasteiro, que ainda ontem manifestara sua lealdade ao governo e que também se autodenominou diretor geral dos carabineros. Diante desses fatos, só me cabe dizer aos trabalhadores: Não vou renunciar! Colocado numa encruzilhada histórica, pagarei com minha vida a lealdade do povo. E lhes digo que tenho a certeza de que a semente que entregamos à consciência digna de milhares e milhares de chilenos não poderá ser ceifada definitivamente. Eles têm a força, poderão nos avassalar, mas não se detém os processos sociais nem com o crime, nem com a força. A história é nossa e a fazem os povos. Trabalhadores de minha pátria, quero agradecer-lhes a lealdade que sempre tiveram. A confiança que depositaram em um homem que foi apenas intérprete de grandes anseios de justiça. Que empenhou sua palavra em que respeitaria a lei e a Constituição e assim o fez. Neste momento definitivo, o último em que poderei dirigir-me a vocês, quero que aproveitem a lição: o capital estrangeiro, o imperialismo, unido à reação, criaram o clima para que as forças armadas rompessem sua tradição que lhes ensinara o general Schneidder e reafirmara o comandante Araya, vítimas do mesmo setor social que hoje está em suas casas esperando, por mãos alheias, reconquistar o poder e seguir defendendo seus lucros e privilégios. Dirijo-me, sobretudo, à mulher simples da nossa terra. À camponesa que acreditou em nós, à operária que trabalhou mais, à mãe que soube de nossa preocupação com as crianças. Dirijo-me aos profissionais da pátria, aos profissionais patriotas, aos que continuaram trabalhando, contra a conspiração conclamada por grupos profissionais e por associações de classe, para defender também as vantagens da sociedade capitalista de uns poucos. Dirijo-me à juventude. Àqueles que cantaram e que deram sua alegria e seu espírito de luta. Dirijo-me ao homem do Chile. Ao operário, ao camponês, ao intelectual. Àqueles que serão perseguidos, porque em nosso país o fascismo já está presente há muito tempo: nos atentados terroristas, explodindo as pontes, cortando as linhas de trem, destruindo os oleodutos e os gasodutos, diante do silêncio daqueles que tinham a obrigação de agir. Estavam comprometidos. A história os julgará. Seguramente a Radio Magallanes será calada e o metal tranquilo de minha voz não chegará mais a vocês. Não importa. Vocês continuarão a ouvi-la. Sempre estarei junto a vocês. Pelo menos minha lembrança será a de um homem digno que foi leal à pátria. O povo deve se defender, mas não se sacrificar. O povo não deve se deixar arrasar, nem crivar, mas tampouco pode humilhar-se. Trabalhadores de minha pátria, tenho fé no Chile e em seu destino. Outros homens superarão este momento cinzento e amargo em que a traição pretende se impor. Sigam sabendo que muito mais cedo do que se espera, de novo se abrirão as grandes alamedas por onde passará o homem livre, para construir uma sociedade melhor. Viva Chile! Viva o povo! Vivam os trabalhadores! Estas são minhas últimas palavras e tenho certeza de que meu sacrifício não será em vão. Tenho certeza de que será pelo menos uma lição moral que castigará a perfídia, a covardia e a traição.“ Salvador Allende 11/09/1973 edição do canal @UCM3WHPjefo2Olf1S8WCu28w
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